sábado, 6 de fevereiro de 2010

Texto Base Seminário “Comunicação ante o Deus da Esperança”

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Fonte: www.muticom.org

Introdução

“Comunicação ante o Deus da Esperança” é o tema proposto para o desenvolvimento deste Seminário, no contexto do presente Mutirão de Comunicação: processos de comunicação e cultura solidária.

Eu gostaria de iniciar este Seminário, testemunhando um episódio vivido por mim no exercício do jornalismo, com o saudoso D. Helder Câmara e que, ao longo da minha vida, o recordo, especialmente nos momentos de “descrença”. O episódio:

Eu devia preparar um artigo sobre a geração jovem, hoje, para ser publicado na revista Família Cristã. E meu entrevistado seria o D. Helder Câmara. Como eu sabia que daquele homem de Deus, viria algo “extraordinário”, pintei um quadro bastante negativo da juventude, dizendo: “D. Helder, o que o senhor teria a dizer para os jovens de hoje, que não tem ideais, são vazios, não tem senso de responsabilidade, tudo é fácil…se dão cada vez mais às drogas!, etc.” Eu não havia chegado ainda no item 4 da lista preparada, quando D.Helder me interrompe, gesticulando amplamente com os braços, dizendo-me em tom de discurso enfático: “Mas irmã Joana, então a senhora não percebe que nós estamos ainda no primeiro dia da criação! A senhora não percebe que a vida está nascendo todos os dias! A senhora não percebe que Deus está renovando a face da terra todos os dias!?”

Eu iniciei a reportagem, escrevendo: “Estamos no primeiro dia da criação”.

Acabei compreendendo que as palavras de D. Helder revelavam não somente a crença na existência de Deus, mas uma profunda fé-certeza em Deus. Entendi, naquele momento, que a esperança vem junto com a fé, no sentido que ela (a esperança!) tem seu alicerce, se fundamenta, se firma em “algo concreto” para a existência humana: Deus – o princípio de tudo. Daí decorrem as motivações para alimentar a esperança, porque ela não se fundamenta em nós (que falimos tantas vezes!), mas em Deus. E Ele continua fazendo a vida nascer todos os dias…

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“Comunicação ante o Deus da Esperança”

Tema que contém grande densidade teológica, mas que, se pensarmos que Teologia é “Deus no meio do seu povo” na grande Revelação como nas contínuas revelações cotidianas, temos então de considerar, também, onde vive e como vive “esse povo de Deus”. Onde, na sociedade contemporânea, se “deposita” a sua esperança. O tema contém, por outro lado, uma grande provocação: o convite a viver uma esperança ATIVA, se assim podemos dizer. E especialmente no mundo da comunicação.

O tema será desenvolvido em duas grandes partes:

1. Esperança, do ponto de vista humano, a esperança cristã.

2. Na segunda parte abordarei uma Esperança ATIVA; isto é, criativa…. no contexto da comunicação.

I PARTE

A esperança torna-se a palavra carregada de sentido, que mais se fala, se escreve, se canta, se deseja, se almeja… na sociedade contemporânea. Isto porque faz parte do ser humano ter, acalentar sonhos, perseguir as utopias possíveis. E como diria D. Helder: mantém-se a esperança, sobretudo na teimosia, na perseverança, acreditando na “fertilidade do deserto”

Sem dúvida, o tema da esperança pode ser abordado sob muitas formas, mas ninguém poderia abdicar a consideração de que ela é uma virtude humana, que traz no seu bojo o desejo de um bem futuro e a “teimosia” para alcançá-lo. Sendo essencial ao ser humano, ela o faz viver num constante e continuado processo que aponta para um futuro. Mesmo que seja “um futuro misterioso”.

“Não é hora de perder a esperança” disse D. Paulo Evaristo Arns, ao saber da morte de sua querida irmã, Dra. Zilda Arns. Enfoque profundamente humano (mas também cristão, como se verá mais adiante). Sim, a tragédia, por pior que se apresente, nunca nos deverá curvar diante do fracasso, da “impossibilidade”. É próprio do ser humano prosseguir. A frase de D. Paulo Evaristo, saída do interior de um homem de Deus, logo encontrou eco nas pessoas, principalmente em uma jornalista que, ao ser perguntada para descrever como se apresentava a situação e o seu trabalho de “ajuntar” corpos… no Haiti, disse, repetindo D. Paulo: “Não é hora de perder a esperança”.

Há autores, como Agenor Brighenti, que descrevem as atitudes mais comuns que permeiam o comportamento do viver como “adentrar no futuro”:

o medo, a simples espera e a esperança. O medo é um sentimento de paralisação diante de um mal iminente que pode brotar do fardo escuro e imenso do futuro, impedindo de seguir adiante com dinamismo e capacidade criadora . A simples espera é uma atitude passiva e indiferente, uma atitude de resignação diante dos males da vida, que aguarda a chegada do novo e o recebe com frieza. Ela está privada de sonho e de entusiasmo. Já a esperança é um desejo que procura adiantar-se ao futuro, criando-o na imaginação, iluminando toda a existência.

Por isso, a esperança “é uma força que faz aquilo que não é ou aquilo que não existe poder vir a ser”. Praticamente, ela foge ao nosso controle. Porém, é persuasiva para superar limitações e adentrar no “mundo do impossível”.

A Esperança cristã

Esperança é também uma das 3 virtudes teologais do Cristianismo.

Na perspectiva bíblica, começando pelo Antigo Testamento, a esperança é que permeia toda a história do povo de Israel. “As promessas de Deus revelaram”, pouco a pouco, ao seu povo o esplendor desse porvir que não irá ser uma realidade deste mundo e sim, ‘uma pátria melhor, isto é, celeste’: a vida eterna em que o homem será semelhante a Deus” (1j 2,25; 3,2). O povo vive em profundidade a CONFIANÇA em Deus e na sua FIDELIDADE às promessas, que garantem esse porvir. E Deus agiu (e age!) na história. É com Abraão (Gn 12, 1-3) que começa verdadeiramente a história da esperança bíblica: uma terra e uma numerosa posteridade. Depois, a esperança que move o povo de Israel a uma terra onde corre leite e mel (Ex 3, 7-8). Importante notar que, quando a fidelidade a Javé o exige, esses bens terrestres tem de ser sacrificados sem hesitação; assim o sacrifício de Abraão continuava sendo um exemplo de esperança perfeita na promessa de DEUS. (Gn 22) e não do dinheiro, do poder.

Muitas vezes, entretanto, Israel esqueceu que um futuro feliz era um dom do Deus da ALIANÇA (Os 2,10; Ez 16,15ss) e começou a garantir o seu futuro , como faziam as demais nações: culto formalista, idolatria, poder… Deus suscita, então os profetas que denunciam as esperanças ilusórias, ou falsas esperanças. É a denúncia profética, que vai além dos interesses materiais. É aquela que exige, também, a transformação do coração (Jr 31, 31-34; Ez 36, 25-28). Para os profetas, a esperança de Israel e das nações vem a ser o próprio Deus (Is 51,5; 60, 19s; 63, 19) e o seu reino (Sl 96-99). Portanto, para Israel, Deus é a única esperança capaz de suprir as infinitas aspirações dos povos (Is 60,19-20) .

Já no Novo Testamento, é a esperança de Israel que se realiza em Jesus. E toda a mensagem de Jesus Cristo também “se concentra na esperança, tendo como núcleo a pregação do Reino, que já se faz presente por sua ação salvadora (Mt 11,2-5), mas que sobretudo se manifestará plenamente na Parusia (Mc 8,38).”

Por isso, os primeiros cristãos viviam já esta esperança e a expressavam com a oração: “Vem Senhor” (1Cor 16,21-24).

É essa vinda do Senhor que estabelecerá o seu Reino Universal e pacífico em toda a terra (1Ts 2,19-29; 1Cor 15,22-28). A esperança na vinda do Senhor é segura e inquebrantável, mas a hora e o momento são incertos (2Pd 3,8-10). Por isso, a atitude de esperança deve ser uma atitude vigilante (1Ts 5,1-6; 1Pd 5,8) e ativa (Mt 25,14; 2Ts 3,6-8), impregnada de alegria, pois tem a consciência de estar de posse antecipada da salvação (2Cor 3,18; Rm 8,18-25) e conta com a realidade do Cristo ressuscitado, primícias da salvação universal (Rm 6,3-5; Cl 3,1-4) .

Em síntese, “o fundamento e o centro da fé cristã é a mensagem da promessa do Reino de Deus, já presente na vida, paixão, morte e ressurreição de Jesus pelo Pai. Mas ambas, promessa e ressurreição, não são reais e completas sem o retorno de Jesus, sem a ressurreição de toda carne (cf. 1 Cor 15), sem o novo céu e a nova terra (cf. Ap 21,22)”.

Portanto, crer na ressurreição de Jesus é o mesmo que esperar a consumação universal prometida e significada por esta ressurreição (Não somos fadados ao “nada”). É a esperança que nos faz ultrapassar os limites da cruz, (Jesus os venceu pela ressurreição).

Há um forte vínculo, indissolúvel, entre fé e esperança, e quem o integra é o amor. “A esperança é a força interior da mesma [da fé]. Esta força capacita o ser humano para entregar-se a Deus, cada vez com mais confiança, olhando para o futuro prometido”. Importante enfatizar, como nos adverte Brighenti, apoiando-se em Kerstiens, que a esperança cristã se dirige em direção ao futuro e não ao fim de uma evolução, ainda que também desde a história. Em outras palavras, o ser humano se dirige para o futuro que espera de Deus enquanto busca antecipá-lo num presente intramundano. Espera a justiça e a paz de Deus enquanto procura agora sua realização antecipada .

Bento XVI, já na introdução da encíclica Spe Salvi (2007), afirma que:

A redenção é-nos oferecida no sentido que nos foi dada a esperança, uma esperança fidedigna, graças à qual podemos enfrentar o nosso tempo presente: o presente, ainda que custoso, pode ser vivido e aceite, se levar a uma meta e se pudermos estar seguros desta meta, se esta meta for tão grande que justifique a canseira do caminho (1). [E que] o elemento distintivo dos cristãos o fato de estes terem um futuro: não é que conheçam em detalhe o que os espera, mas sabem em termos gerais que a sua vida não acaba no vazio.

Na verdade, afirma, ainda o pontífice, que a crise atual de fé é sobretudo uma crise de esperança cristã e que o homem busca restabelecer o “paraíso perdido” com os progressos materiais da técnica e da ciência.

Hoje, mais que em outros tempos, devido à crise das utopias, da selvageria que o capitalismo neoliberal tem se implantado no palco histórico da sociedade contemporânea, anunciar e fazer com que o Senhor venha para nos libertar de tal situação é algo urgente. Como enfatiza Renold Blank: “Um mundo sem esperanças afunda em crises de sentido cada vez mais profundas, nenhuma promessa de satisfação consumista poderá encher o vazio nos corações de seus integrantes. Nessa situação surge mais do que nunca a necessidade de anunciar e de proclamar, a um mundo carente de esperanças, a grande mensagem do Reino de Deus”

Como salienta J. B. Libanio, “À medida que os homens, em consciência e liberdade, vão respondendo, através de suas ações, de seu compromisso na história, a esses [aos] interpelativos de Deus, já se inicia a eternização do Reino. Não é simplesmente no momento da morte que amadurece definitiva e universalmente o que o homem vem construindo na história. Já dentro da história tal amadurecimento se dá, desde toda vez que o homem se coloque em liberdade diante da interpelação do infinito de Deus, naturalmente através de inúmeras mediações”

A nível horizontal, a esperança em direção a um futuro “para além” da morte nos conclama desde “já” para vivermos na dinâmica do Reino, sendo contestadores e denunciadores de tudo o que se coloca contra a vontade de Deus.

A abertura às exigências do Evangelho, a defesa e a promoção da vida são as realidades indispensáveis nas quais se concretiza horizontalmente a dialética do “já” e do “para além” da morte. Portanto, do ponto de vista da esperança escatológica, a vitória sobre a morte não é só um futuro; ela já está no próprio ato da existência cristã que participa do mistério pascal de Cristo. Eis por que a esperança cristã exige uma práxis social libertadora, uma esperança libertadora e uma existência na esperança.

Como sublinha Libanio, numa ótica teológica libertadora, “a pergunta concentra-se antes no significado cristão do agir do homem no mundo atual, na construção da realidade social. Modifica-se a pergunta na compreensão da relação com o além. Afasta-se da perspectiva comercial de ações que garantem os juros eternos, para descobrir o definitivo já presente no atuar humano”.

II PARTE

Esperança “ATIVA”. Isto é, criativa! no contexto da comunicação

Como é que podemos falar de esperança “ativa”, esperança “criativa”, se se trata de algo que ainda não existe? Poderia parecer um paradoxo! Mas é justamente a ALIANÇA do DEUS DA ESPERANÇA, que já é presente, que não é futuro, que nos sustenta, que nos faz estar a caminho, que nos move e motiva a nossa presença, como cristãos, na extensão-construtiva da sua obra criadora: o mundo da comunicação!

A Esperança “ativa” que se torna “criativa”, deve ser o marco que perpassa e que conduz o nosso olhar sobre o povo peregrino, caminhante, HOJE. Também, hoje, o DEUS DA ALIANÇA está presente e, na sua fidelidade, torna-se a razão da nossa esperança. Estamos firmes em uma rocha, que é Deus, que prometeu, que realizou, que se perpetua na história do seu povo e quer continuar sua “criação” através de nós.

Portanto, entremos no AREÓPAGO DA COMUNICAÇÃO , e descubramos o apelo que o Deus da esperança nos faz, como cristãos, quanto à questão da EVANGELIZAÇÃO, na sociedade atual.

1 -Trata-se de um areópago, proclamado por João Paulo II como o mais moderno .

O primeiro areópago dos tempos modernos é o mundo das comunicações… Talvez se tenha descuidado, um pouco, este areópago: deu-se preferência a outros instrumentos para o anúncio evangélico e para a formação, enquanto os mass mídia foram deixados à iniciativa de particulares ou de pequenos grupos, entrando apenas, secundariamente, na programação pastoral.

O uso dos mass mídia, no entanto, não tem somente a finalidade de multiplicar o anúncio do Evangelho: trata-se de um fato mais profundo… Não é suficiente, portanto, usá-los para difundir a mensagem cristã e o Magistério da Igreja, mas é necessário integrar a mensagem nesta “nova cultura”, criada pelas modernas comunicações.

Um cenário em mudança

Já é comum encontrarmos reflexões e variadas abordagens sobre a sociedade atual e que já a definimos como “a tecnosociedade do século XXI”, onde assistimos uma espécie de reorganização dos seres humanos, devido, sobretudo às tecnologias de comunicação, ou novas mídias sociais. Forma-se uma nova cultura, a que chamamos de cultura midiática. O fato é que essa sociedade vive um carater continuamente mutante do mundo atual, mapeando lógicas diversas, mudanças de paradigmas, o surgimento de novas sociabilidades, de novos espaços (ou a desespacialização), e, portanto, de novos pertencimentos.

Trata-se do surgimento de uma nova visibilidade que está definitivamente relacionado a novas maneiras de agir e interagir trazidas com a mídia .

O sociólogo inglês John B. Thompson aponta o que pode ser entendida como uma “teoria interacional” da mídia, quando analisa os meios de comunicação em sua relação com as formas de interação que eles tornam possíveis e das quais eles são parte. Afirma que “as mídias comunicacionais não se restringem aos aparatos técnicos usados para transmitir informações de um indivíduo a outro enquanto a relação entre eles permanece inalterada; ao contrário, usando as mídias comunicacionais ‘novas’ formas de agir e interagir são criadas.”

E o que são essas formas de agir e interagir?

Há um cenário em que se destacam ao menos três grandes modelos de comunicação: a comunicação dialógica presencial; a comunicação de massa; a comunicação dialógica não presencial.

O primeiro modelo comunicacional -o da comunicação dialógica presencial- é o que chamamos de interação face-a face e que percorre largos tempos históricos para chegar até aqui. Nesse tipo de interação, os integrantes estão presentes de forma direta um para o outro e compartilham de uma estrutura espácio-temporal comum; em outras palavras, a interação acontece num contexto de co-presença. A interação face-a-face é «dialógica» tipicamente, no sentido de que geralmente implica num fluxo comunicativo e informativo de duas vias. Não devemos imaginar este diálogo como sendo realizado entre duas pessoas, sem contexto, sem a mediação social e, por conseguinte, cultural.

Um segundo modelo é o da comunicação nas chamadas mídias tradicionais de massa. Envolve cinema, rádio, televisão. Foi o modelo que deu origem às primeiras teorias da comunicação. Teve papel marcante no século passado e ainda é o principal referencial de comunicação na sociedade atual.

As características fundamentais deste modelo são: comunicação mediada pela técnica; ausência de diálogo, apesar de existir troca de sentidos. Este modelo é, é altamente monológico. Não tem o mesmo nível de reciprocidade e de especificidade interpessoal de outras formas de interação, seja mediada ou face-a-face. Superou fronteiras geográficas e culturais, transformou a circulação de bens simbólicos num grande mercado, com crescente importância econômica, e com influência social indiscutível (desenvolve-se, de forma crescente, o consumo e as técnicas que o favorecem!)

Hoje é inimaginável a sociedade que temos sem o papel desempenhado por este modelo comunicacional. Produzidos cada vez em um número de centros mais reduzidos e difundidos de maneira nacional e mundial, os produtos deste modelo guardam a intencionalidade de seus produtores e a lógica impessoal (ou para ser mais preciso, industrial) de sua produção.

E o terceiro modelo – o da comunicação dialógica não presencial -, que tem origem recente e, portanto, revela-se como um elemento novo, que reestrutura o todo comunicacional em outros termos, já que tem influência crescente.

A marca essencial deste novo modelo é a combinação da relação dialógica com a mediação técnica, permitindo a simulação do primeiro modelo de comunicação por cima de barreiras de tempo e espaço. Este novo modelo guarda as características mais positivas de seus precedentes: a questão dialógica como construtora do desenvolvimento do conhecimento e da subjetividade e a mediação das técnicas permitindo superar barreiras geográficas. Entretanto, é preciso ressaltar também o que ela não contém: a presença, fator importante da confiabilidade dialógica; e a difusão ampla, própria do modelo de comunicação de massa, já que a relação dialógica pressupõe recorte e definição de interlocutores.

O ciberespaço é a dimensão social em que se realiza este novo modelo de comunicação, através de chats, e-mails, teleconferências, listas de discussão etc. Dentro dele se realiza também uma comunicação no modelo de massa, mas pesquisas recentes demonstram que a maioria dos acessos visa a relação dialógica não presencial. É a questão da virtualidade.

Sem adentrar em questões amplas e complexas (porque, hoje, tudo está em discussão!), permito-me a apontar 3 aspectos que me parecem importantes perceber nesta nova cultura da comunicação: o surgimento de novas sociabilidades, isto é novas modalidades de “estar junto”, ou seja, é possível experimentar novas e criativas formas de sociabilidade, e isto reinventa modalidades de estar entre o local e o global, e portanto, produzem novas formas de “pertencimento, lugares e significados locais não dados”.

A própria idéia de comunidade não se vincula mais a algo “reificado, fetichizado, enraizado num território, identificado a partir da terra ou do sangue, mas se transforma na imagem de um povo em potência, em vida de autoconstrução e de autoconhecimento, em gestação” (Pierre Levy). Trata-se da construção das comunidades de sentido. “Talvez sejam as mesmas sensações de indivíduos e grupos que buscam, nas comunidades de sentido, a possibilidade de construção de referencias identitárias ligadas à segurança, conforme apresenta Zigmunt Bauman, em sua reflexão sobre comunidade, como uma denominação nova para a busca do paraíso perdido em tempos de incerteza.

2- Documento de Aparecida – 2008

É na preocupação do “novo sujeito” que vem surgindo nesta sociedade tecnocrática” que o Documento de Aparecida, em continuidade com o pensamento do Magistério da Igreja, enfatiza a necessidade de entrarmos, de conhecer a comunicação. Nos números 484 a 490, o Documento, se propõe a formar discípulos e missionários, conhecendo e valorizando a “nova cultura da comunicação”, atitude esta que implica no desenvolvimento, entre muitas iniciativas, a de formar e educar as pessoas para a comunicação.

Levando em conta que aquilo que a revolução tecnológica introduz em nossa sociedade, não é apenas uma quantidade inusitada de novas tecnologias, criativas, potentes e abrangentes, mas um novo modo de relacionar processos simbólicos e formas de produção e distribuição dos bens e serviços, é preciso estarmos atentos à comunicação que mais e mais remete, não tanto aos meios, mas sim a novos modos de percepção e de linguagem, a novas sensibilidades e sociabilidades.

3- Entrar decisivamente no mundo atual da comunicação.

(As últimas mensagens de Bento XVI para o dia Mundial das Comunicações)

Ancorados sempre nas palavras do Magistério da Igreja, que nos aponta as diretrizes da evangelização, encontramos palavras incentivadoras do Papa Bento XVI para evangelizar, para estar e desenvolver a esperança ATIVA/CRIATIVA, na fidelidade de um DEUS que é esperança. Por isso temos motivo, razão para construir a comunicação, não no combate, mas na presença que revela onde, realmente, está AQUELE que é a razão de ser de nossa vida: DEUS!

…é importante considerar não só a sua indubitável capacidade [das tecnologias] de favorecer o contacto entre as pessoas, mas também a qualidade dos conteúdos que aquelas são chamadas a pôr em circulação. Desejo encorajar todas as pessoas de boa vontade, ativa no mundo emergente da comunicação digital, a que se empenhem na promoção de uma cultura do respeito, do diálogo, da amizade.

(…) Desta nova cultura da comunicação derivam muitos benefícios (…)

Embora seja motivo de maravilha a velocidade com que as novas tecnologias evoluíram (…), não deveria surpreender-nos a sua popularidade entre os usuários porque elas respondem ao desejo fundamental que têm as pessoas de se relacionar umas com as outras. Este desejo de comunicação e amizade está radicado na nossa própria natureza de seres humanos, não se podendo compreender adequadamente só como resposta às inovações tecnológicas.

(…) Nos primeiros tempos da Igreja, os Apóstolos e os seus discípulos levaram a Boa Nova de Jesus ao mundo greco-romano: como então a evangelização, para ser frutuosa, requereu uma atenta compreensão da cultura e dos costumes daqueles povos pagãos com o intuito de tocar as suas mentes e corações, assim agora o anúncio de Cristo no mundo das novas tecnologias supõe um conhecimento profundo das mesmas para se chegar a uma sua conveniente utilização. (Bento XVI – 43º Dia Mundial das Comunicações -2009)

Realmente, estamos como que no limiar de uma «história nova», porque quanto mais intensas forem as relações criadas pelas modernas tecnologias e mais ampliadas forem as fronteiras pelo mundo digital, tanto mais o apelo de revelar o “rosto de Deus”, no mundo da comunicação.

Mas a esperança Criativa se manifesta não pelo “cair na tentação” de simplesmente marcar a nossa presença e de considerar erroneamente a internet apenas como um espaço a ser ocupado. O que nos é pedido, como pessoas que crêem e professam sua fé é a capacidade de estarmos presentes no mundo digital em constante fidelidade à mensagem evangélica, para desempenharmos, com o conhecimento e a competência necessária, a evangelização que a sociedade de hoje necessita. E o que ela necessita, acima de tudo, expresso cada vez mais frequentemente através das muitas «vozes» que surgem do mundo digital, é perceber “que a amorosa atenção de Deus em Cristo por nós não é algo do passado nem uma teoria erudita, mas uma realidade absolutamente concreta e atual. De fato, a pastoral no mundo digital há-de conseguir mostrar, aos homens do nosso tempo e à humanidade desorientada de hoje, que «Deus está próximo, que, em Cristo, somos todos parte uns dos outros» [Bento XVI, Discurso à Cúria Romana na apresentação dos votos de Natal: «L’Osservatore Romano» (21-22 de Dezembro de 2009) pág. 6].

Cabe, pois, à Pastoral da Comunicação, como expressa o Documento de Aparecida, vivificar todas as demais manifestações pastorais, pregando insistentemente a necessidade constante do diálogo e da abertura para a participação de todos. No caso, a Pastoral da Comunicação volta-se, simultaneamente, para o ser humano, enquanto “ser de relação” (Paulo Freire) e para a máquina, enquanto espaço de relação (Pierre Levy). Sem dúvida, tal conjuntura traz um intrigante desafio para a Pastoral da Comunicação.

Mas Caminhamos ante o Deus da Esperança, porque ele esteve com o seu povo no passado e É conosco, hoje! Continuemos sua obra criativa!

Joana T. Puntel

Porto Alegre, 4 d fevereiro 2010 – Mutirão Nacional da Comunicação

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