Mas o clima positivo de uma campanha inspirada por nobres sentimentos de solidariedade humana, onde o consenso é evidente, me permite abordar, com a necessária serenidade, outro assunto, bem mais complexo, como é a questão dos Direitos Humanos, colocados agora em evidência pelo Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH3), publicado no final de 2009.
Quando mantida esta postura, recebem mais força os pontos defendidos à luz da ética que ilumina toda a questão dos direitos humanos, a partir da inalienável dignidade de que cada ser humano se reveste, como sujeito de direitos inalienáveis e indiscutíveis.
Esta posição firme e serena foi demonstrada pela CNBB, em recente declaração sobre o assunto, vazada nestes termos:
"A CNBB reafirma sua posição, muitas vezes manifestada, em defesa da vida e da família, e contrária à descriminalização do aborto, ao casamento entre pessoas do mesmo sexo e o direito de adoção de crianças por casais homoafetivos. Rejeita, também, a criação de ´mecanismos para impedir a ostentação de símbolos religiosos em estabelecimentos públicos da União` , pois considera que tal medida intolerante pretende ignorar nossas raízes históricas".
Mesmo diante desta clara posição da CNBB, o bom senso nos leva a perceber que existem pesos específicos bem diferentes entre os diversos pontos defendidos pela CNBB. Uma é, por exemplo, a gravidade da questão do aborto, sempre condenado firmemente pela Igreja. Outra é a questão de regular o uso dos símbolos religiosos, que permite, com certeza, posições muito mais maleáveis, e sujeitas a um pacífico entendimento da sociedade.
Digo isto para ressaltar quanto é importante sabermos ter, ao mesmo tempo, firmeza de posições, e abertura para o diálogo, para ver todas as questões implicadas em cada capítulo dos "Direitos Humanos", na perspectiva do respeito a todas as pessoas, no convívio democrático em sociedade.
Quando a defesa destes princípios, assumidos à luz da ética e da fé cristã, vem revestida de fanatismo, acaba prejudicando a própria causa, que dispensa radicalismos, e tem força de persuasão por seu próprio mérito, e não pela pressão de ameaças e de ofensas contra quem quer que seja.
A carga de equívocos provocados pela publicação deste "Programa", precisa ser superada com urgência pelo enfrentamento sereno de todas as questões, com responsabilidade e respeito a todos os que desejam participar do sadio debate que o Programa quis suscitar.
A prova maior da maturidade política da sociedade brasileira será, me parece, a abordagem consciente e ponderada das sequelas deixadas pela tortura, tristemente praticada no Brasil em períodos recentes de nossa história. Aí é preciso ter muita lucidez política e equilíbrio de posições, no discernimento do que convém assumir nas condições em que se encontra hoje a cidadania brasileira.
Que Deus nos livre dos fanáticos, seja de onde vierem!
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